16 de setembro de 2010

Filhos e amigos ilustres de Marvão homenageados pelo Município


A 8 de Setembro de 2010, conforme noticias dos Jornais "Alto Alentejo" e "Jornal Fonte Nova", foram homenageados pelo Município de Marvão, Jeremias da Conceição Dias (a título póstumo), o Arquitecto Nuno Teotónio Pereira e o Jorge Anselmo.

Aos homenageados e às suas famílias o Movimento por Marvão apresenta votos de parabéns pelo reconhecimento de que foram alvo.

Jornal Alto Alentejo de 15 Setembro de 2010

Jornal Fonte Nova de 11 de Setembro de 2010, n.º 1778

9 de setembro de 2010

Arquitecto Nuno Teotónio Pereira homenageado pela Câmara Municipal de Marvão (2)

.
Para a história desta homenagem, que o Movimento por Marvão saúda, pela sua importância e oportunidade, deixamos aqui a intervenção do arquitecto Nuno Teotónio Pereira, que na ocasião foi lida pelo seu neto, Tiago Pereira.


"Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Municipal,
Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal,
Exmos. Deputados Municipais,
Exmos. Membros do Executivo,
Caros Munícipes,

A Câmara Municipal de Marvão entendeu por bem atribuir-me a Medalha de Mérito, alegando o meu “contributo na divulgação do concelho de Marvão”.

Tendo nascido em Lisboa, desde jovem me interessei por entender Portugal, sobretudo a partir da minha profissão de arquitecto, que me levou a procurar conhecer os monumentos e as regiões mais notáveis e, muitas vezes, menos divulgadas. Foi neste contexto que descobri Marvão, nos anos 60 do século passado, após uma subida penosa por uma estrada muita sinuosa e esburacada, tendo ficado deslumbrado pelo seu conjunto monumental integrado numa magnífica paisagem. O que me fascinou especialmente foi a vila medieval encimando uma cumeada surpreendente e muito bem aconchegada na encosta.

De tal maneira ficámos apaixonados pelo lugar, que em 1966 eu e minha mulher acabámos por aí comprar uma casa para passarmos as férias, numa altura em que foi já mais suave a subida da encosta, visto ter sido recuperada aquela estrada, a qual ficou conhecida como a estrada do Jeremias, fruto do seu empenho na sua recuperação. Esta casa serviria igualmente de ponto de encontro e de estadia a numerosos amigos que, também eles, tiveram a oportunidade de aprofundar a sua relação com a região.

Foi nessa altura que a casa de Marvão serviu como ponto de apoio para actividades em que ambos estivemos envolvidos, no âmbito do combate à ditadura salazarista. A esse propósito, foi-me mais tarde relatado por um elemento da GNR que, se algum carro estacionasse com alguma demora à nossa porta, deveria ser enviado um sinal para a PIDE de Portalegre, utilizando a seguinte expressão: “chegou a encomenda!”, sendo que pouco depois um carro dessa corporação estacionava junto da casa com o fim de identificar os visitantes.

Pela mesma época, tirando partido do conhecimento que tínhamos das redondezas e das rotas utilizadas no contrabando, organizámos várias fugas de jovens mobilizados para a guerra colonial que decidiam sair do país clandestinamente. Juntamente com os nossos filhos, para dar um aspecto de passeio, rumávamos por um caminho estreito até à localidade fronteiriça de La Fontañera, onde uma antiga ponte de pedra possibilitava o atravessamento do rio Sever, que demarcava a fronteira; entretanto, um carro de algum amigo atravessava legalmente a fronteira, indo recolher os fugitivos pelo lado espanhol e conduzindo-os até à cidade mais próxima servida por transportes colectivos, que eles livremente tomavam, na direcção da fronteira francesa.

Mais tarde, fui encarregado de fazer os planos de urbanização de Castelo de Vide e Póvoa e Meadas, o que me levou, durante alguns anos, a utilizar a casa de Marvão com bastante frequência. Estas deslocações, somando-se às estadias nas férias grandes, levaram-me a tecer laços fortes com o concelho e os seus habitantes; também as aproveitava para levar comigo pessoas amigas a quem, com frequência, emprestava a casa para períodos de férias; para todas essas pessoas, Marvão passou a ser uma referência.

Foi neste quadro que fiz parte, em 1969, da lista da CDE (Comissão Democrática Eleitoral) nas eleições para a Assembleia Nacional, pelo círculo de Portalegre. Tendo tentado entregar as assinaturas necessárias para o efeito, foi-nos barrado o acesso ao Governo Civil de Portalegre por já passarem 30 minutos da hora estabelecida. Este atraso ficou a dever-se ao facto de uma grande parte das pessoas abordadas, apesar de algumas serem conhecidas por oposicionistas, terem tido receio de colocar na lista o respectivo nome. Apesar deste fracasso, procurámos, aproveitando as liberdades concedidas durante esse período, desenvolver uma activa campanha contra o regime ditatorial. Em 1975, fui cabeça de lista do Movimento de Esquerda Socialista (MES) nas eleições para a Assembleia Constituinte, no distrito de Portalegre, e, anos mais tarde, mandatário do Bloco de Esquerda em eleições legislativas. Actualmente, sou filiado no PS.

De então para cá, sempre tenho estado ligado a Marvão, dado que a nossa casa passou a funcionar como residência permanente da família de meu filho Miguel Teotónio Pereira.

Neste momento tão especial quero também congratular-me com a homenagem que é, finalmente, prestada a Jeremias da Conceição Dias, por mim reclamada em artigo publicado no Jornal Público em 10/10/1994, de quem tive o privilégio de ser amigo e admirador da sua luta incessante pela defesa do património de Marvão.


Marvão, 8 de Setembro de 2010
Nuno Teotónio Pereira"


Tiago Pereira, neto de Nuno Teotónio Pereira, lendo discurso do avô

O neto, Tiago Pereira e o filho, Miguel Teotónio Pereira, do arquitecto Nuno Teotónio Pereira

Fernanda Fernandes e o filho Tiago Pereira
.

Arquitecto Nuno Teotónio Pereira homenageado pela Câmara Municipal de Marvão (1)


O arquitecto Nuno Teotónio Pereira foi no passado dia 08 de Setembro de 2010, feriado municipal, homenageado pela Câmara Municipal de Marvão, que lhe atribuiu a medalha de mérito Municipal.


Deixamos aqui, um breve Curriculum, do amigo de Marvão, Nuno Teotónio Pereira.

Nuno Teotónio Pereira nasceu em 1922, em Lisboa. É arquitecto diplomado pela Escola de Belas Artes de Lisboa. Tem desenvolvido a sua actividade em regime de profissão liberal, ainda que em simultâneo, durante cerca de vinte anos, com a de técnico de um organismo público ligado à habitação social, domínio em que adquiriu vasta experiência. Vários trabalhos saídos do seu atelier foram distinguidos com diversos prémios, entre os quais o Prémio Valmor. Em 2004 foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante, por altura de uma exposição retrospectiva realizada no Centro Cultural de Belém e que documentava a actividade do seu atelier ao longo de sessenta anos, denominada «Arquitectura e Cidadania».

Em 2003 foi doutorado “Honoris Causa” pela Universidade do Porto e em 2005 pela Universidade Técnica de Lisboa. No corrente ano, foram-lhe atribuídos a Medalha Municipal de Mérito, Grau Ouro, pela Câmara Municipal de Lisboa, e o Prémio Carreira da Bienal Ibero-americana de Arquitectura e Urbanismo. É sócio correspondente da Academia Nacional de Belas Artes e foi presidente do Movimento de Renovação da Arte Religiosa, da Cooperativa Cultural PRAGMA, do Centro Nacional de Cultura, da Associação dos Arquitectos Portugueses e do Conselho de Arquitectos da Europa.

No período do Estado Novo foi membro da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos e coordenador do jornal clandestino Direito à Informação, participou nas vigílias contra a guerra colonial da Igreja de S. Domingos e da Capela do Rato e no Boletim Anti-Colonial e foi preso várias vezes pela PIDE/DGS, tendo sido libertado de Caxias na sequência do 25 de Abril de 1974.

Em 1995 recebeu a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.