26 de fevereiro de 2009

Movimento por Marvão - ¿ESQUERDA OU DIREITA?

Jorge Alberto
Jorge Alberto

Nos finais do século XVIII, a França vivia uma crise generalizada, que afectava sobretudo os grupos não privilegiados. Para pôr fim a esta situação calamitosa, o Rei Luís XVI decide convocar os Estados Gerais em 1788, reunindo representantes do Clero, da Nobreza e, maioritariamente, do Terceiro Estado – os povos – em Maio do ano seguinte. Os representantes do Terceiro Estado clamavam sobretudo pelo fim das situações de distinção social que caracterizavam o feudalismo ainda vigente no final do Antigo Regime.

O desejo de mudança que o Terceiro Estado impôs era tal que dos Estado Gerais resultou, em Junho de 1789, a Assembleia Nacional Constituinte, instituída para redigir uma Constituição que garantisse a todos os cidadãos igualdade perante a lei. No mês seguinte, face a uma nova subida do preço do pão, o povo de Paris revoltou-se e tomou a prisão da Bastilha. Era dia 14 de Julho de 1789 e a data tornou-se símbolo da Revolução Francesa e do fim do Antigo Regime, tal como a Declaração universal dos direitos do Homem e do Cidadão, aprovada pela Constituinte em Agosto.
Em Setembro de 1791 foi aprovada a Constituição e, por conseguinte, criada a Assembleia Legislativa onde os representantes dos povos, da pequena e média burguesia e os Jacobinos (extremistas partidários do fim da Monarquia) tomaram lugar à esquerda da Assembleia enquanto que os Girondinos e os representantes dos interesses da alta burguesia e da Nobreza tomaram lugar mais à direita.

É desta disposição que nasce a designação de “esquerda” e de “direita” para as ideologias políticas, ficando a esquerda associada ao progressismo, à imposição de direitos iguais para todos através da lei e a um maior centralismo do Estado na economia. A direita, por sua vez, ficaria conotada com o liberalismo económico, com o papel menos interventivo do Estado na economia e na sociedade e com a defesa dos valores mais conservadores.
Os ideais da Revolução Francesa generalizaram-se e com eles esta divisão do campo político. Em todo o mundo ocidental o liberalismo abriu espaço ao debate entre partidos que foram sendo identificados com a esquerda ou a direita, conforme os seus juízos sobre os mais variados temas e a sua própria génese.
Ainda hoje podemos ouvir estes conceitos aplicados às nossas forças políticas, mas esta distinção ainda faz sentido? São a esquerda e a direita tão diferentes que se constituam, de facto, como alternativa uma da outra?
Podemos dizer que no que respeita a certos assuntos específicos como o aborto ou os casamentos entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo, ainda existe alguma fricção entre os dois campos, uma vez que a esquerda tendeu sempre para uma maior aceitação das mudanças da sociedade e dos tempos, enquanto que a direita tendeu sempre para a defesa dos valores tradicionais e muitas vezes viu com maus olhos essas mudanças, sobretudo quando mais radicais. Isto não significa que tenham sido sempre campos estanques e que não tenha havido pessoas da direita tão ou mais progressistas do que algumas pessoas que se identificam com a esquerda, claro está. Também não significa que uma delas esteja mais certa e a outra mais errada; são ambas necessárias ao equilíbrio. Aliás, quando houve uma imposição de uma das visões, através de ditaduras por exemplo, o resultado acabou por ser sempre, em última análise, um retrocesso. É hoje óbvio que a democracia não é um sistema perfeito, mas ainda não conhecemos um que seja mais equitativo que o nosso imperfeito sistema democrático.
Contudo, no mundo actual, dominado pela economia e pelas finanças, a linha é cada vez mais ténue e tende mesmo para desaparecer. Direita e esquerda, governando quase em todos os países em alternância, adoptam cada vez mais modelos semelhantes, ao ponto de mal poderem ser distinguidos pelo cidadão comum.
O paradigma na nossa sociedade de inícios do século XXI é bem diferente do que foi nos dois séculos anteriores. Paralelamente, a esquerda e a direita parecem caminhar em direcção ao centro e nesse sentido, servem a democracia?
Com os grandes partidos políticos a ocupar-se cada vez mais de questões económicas, num país como Portugal, onde apenas existe um governo central absorvido quase exclusivamente com a “crise”, o “deficit”, “as contas públicas”, “a produtividade” e a “avaliação dos Professores”, quem se ocupa das questões de carácter social, do bem estar das populações e dos interesses dos sítios pequenos? Pelo que se tem visto, ninguém!
É então compreensível e de salutar que surjam grupos de cidadãos independentes preocupados com os assuntos de carácter local que os partidos políticos tradicionais tendem a esquecer ou deixar para trás, ocupados que estão com a economia e a macroeconomia. Cidadãos que, sem importar direita ou esquerda, conheçam a sua terra, os seus desafios e problemas, e lutem por ajudar a resolvê-los com ideias construtivas e úteis para as populações. É por isso que o Movimento por Marvão é importante e extremamente necessário num concelho como o nosso, longe dos centros de decisão, com uma economia frágil, despovoado e com uma população envelhecida. Num concelho pequeno como Marvão e mais que nunca, as decisões têm que ser tomadas junto das pessoas e ouvindo-as e isso, melhor que ninguém, poderá ser feito por um grupo de pessoas jovens, com ideias e energia, sem ligações nem dependências partidárias e que apenas quer o melhor para a sua terra.

Jorge Maroco Alberto